O Carcinoma Hepatocelular (ou câncer de fígado) é um tumor bastante complexo. Assim, dependendo de algumas características do tumor e do próprio paciente, diferentes tratamentos podem ser propostos.
Por que tenho câncer no fígado?
A grande maioria dos cânceres de fígado surge em pacientes hepatopatas, ou seja, em pacientes que tenham alguma disfunção do fígado. Essa disfunção pode ser causada pela ingestão de álcool, por alguma doença infecciosa (como as hepatites), por doenças auto-imunes (o próprio sistema imune atacando as células do fígado), por acúmulo de gordura no fígado ou por outras causas.
Tanto o efeito direito dessas "agressões" constates no fígado, quanto a multiplicação celular aumentada para regeneração do órgão, aumentam a probabilidade do desenvolvimento das lesões malignas.
Qual o melhor tratamento para cada situação?
Como pudemos ver, o câncer de fígado costuma estar associado a um funcionamento limitado do restante do fígado. Desse modo, na hora de escolhermos o melhor tratamento para esse tumor, devemos levar em conta o quanto o fígado remanescente é capaz de suportar as funções essenciais que o fígado possui.
Assim, por exemplo, embora uma parte do fígado que contenha um tumor possa ser ressecada cirurgicamente, muitas vezes o restante de fígado que sobrará não é suficiente.
Logo, não é uma questão de simplesmente tratar o câncer, mas sim uma abordagem complexa em que devem ser ponderados os benefícios e riscos de cada procedimento.
Múltiplos fatores devem ser levados em conta nessa abordagem:
Número e localização das lesões;
Invasão dos vasos hepáticos pelo tumor;
Função hepática;
Aspecto clínico e comorbidades (outras doenças) do paciente;
Existência de leões secundárias fora do fígado (metástases).
Muitas pesquisas científicas foram feitas com o intuito de estudar cada caso e determinar o melhor tratamento possível. Buscando juntar os principais achados desses trabalhos, foi criado por um grupo de Barcelona uma das principais diretrizes utilizadas no mundo para o tratamento do câncer de fígado: o BCLC (Barcelona Clinic Liver Cancer staging and treatment strategy).
* Lembrando que embora simplificada na tabela, a decisão de tratamento é complexa e deve ser individualizada para cada paciente e tomada em conjunto com o médico hepatologista, gastroenterologista ou oncologista, sendo a diretriz do BCLC apenas um guia para tomar as decisões com o melhor embasamento científico possível.
Entendendo as opções de tratamento:
1) Ablação
QUEM FAZ: Radiologista Intervencionista.
CLASSE: Procedimento minimamente invasivo percutâneo.
COMO É: Guiada tomografia computadorizada e ultrassonografia (métodos de imagem), uma agulha especial é introduzida através da pele, até que sua extremidade seja inserida na "lesão alvo". Essa agulha é ligada em um gerador, que fornece energia e "queima" a lesão.
ANESTESIA: Geral ou sedação (medicamentos para dormir).
TEMPO DE PROCEDIMENTO: Tempo variado, dependendo do número e localização das lesões - em geral, entre 1h e 2h.
TEMPO DE INTERNAÇÃO: Normalmente alta em 1 dia.
2) Ressecção
QUEM FAZ: Cirurgião do aparelho digestivo com especialização em Fígado.
CLASSE: Cirurgia de grande porte.
COMO É: Com um bisturi é realizada uma incisão na parede abdominal. Opcionalmente, em alguns casos, pode ser realizada pela via videolapascópica, sendo apenas feitos alguns furos no abdome, um deles para a passagem de uma câmera para guiar o procedimento.
Segue-se pela retirada cirúrgica regrada dos segmentos do fígado acometidos pelo tumor, com ligadura (fechamento) das estruturas vasculares e biliares correspondentes. Finaliza-se com a sutura (fechamento com pontos cirúrgicos) das camadas do abdome e da pele.
ANESTESIA: Geral.
TEMPO DE PROCEDIMENTO: Tempo variado, dependendo do número e localização das lesões - por volta de 4h.
TEMPO DE INTERNAÇÃO: Cerca de 5-10 dias. Pode ser menor se realizada por videolaparoscopia.
3) Transplante hepático
QUEM FAZ: Cirurgião do aparelho digestivo com especialização em Transplante de Fígado.
CLASSE: Cirurgia de grande porte.
COMO É: Com um bisturi é realizada uma incisão na parede abdominal.
É retirado cirurgicamente o fígado com função limitada. Segue-se com o implante do fígado sadio (do doador), sendo meticulosamente conectados os vasos e vias biliares do paciente com os do fígado recebido. Sutura das camadas do abdome e da pele.
*Embora esses pacientes tenham que receber imunossupressores para o resto da vida (para evitar que o próprio sistema imunológico ataque o órgão recebido), esse procedimento tem a vantagem de não só tratar o tumor como também já resolver problema da insuficiência hepática.
ANESTESIA: Geral.
TEMPO DE PROCEDIMENTO: Tempo variado, dependendo da anatomia do doador e do recptor - em geral, entre 5h e 8h.
TEMPO DE INTERNAÇÃO: Algumas semanas.
4) Quimioembolização
QUEM FAZ: Radiologista Intervencionista.
CLASSE: Procedimento minimamente invasivo endovascular.
COMO É: Realizada punção de uma artéria na virilha ou punho do paciente. Guiado por raios-X, um fino tubo (microcateter) é direcionado até as diminutas artérias que levam sangue ao tumor. Na sequência, são administradas pequenas partículas carreadas com quimioterápico. Assim, esse quimioterápico acaba se desprendendo aos poucos, tendo alta ação no local ao mesmo tempo que é diluído no sangue do resto do corpo, diminuindo as chances dos efeitos colaterais. Em paralelo, essas partículas ocluem os vasos que irrigam o tumor, reduzindo o oxigênio e nutrientes fornecidos a ele.
ANESTESIA: Local (semelhante a que o dentista usa) ou leve sedação.
TEMPO DE PROCEDIMENTO: Tempo variado, dependendo do número e localização das lesões - em geral, entre 1h e 2h.
TEMPO DE INTERNAÇÃO: Normalmente, alta em 1 dia.
5) Sorafenib
QUEM FAZ: Oncologista.
CLASSE: Quimioterápico.
COMO É: Quimioterapia via oral orientada por médico especialista.
TEMPO DE USO DO MEDICAMENTO: Longos períodos.
RESUMINDO
- O câncer de fígado é uma doença heterogênea.
- Existem muitos tratamentos distintos.
- Estudos científicos e a diretriz do BCLC sugerem o melhor tratamento para cada caso.
- Contudo, a abordagem deve ser individualizada para cada caso, levando-se em conta múltiplos fatores que podem impactar na resposta aos principais tratamentos.
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